Estado teve 618 casos entre janeiro e outubro, mais que o dobro do mesmo período de 2023 São Paulo, 04 de dezembro de 2025 — O estado de São...
São Paulo, 04 de dezembro de 2025 — O estado de São Paulo registrou 618 tentativas de feminicídio entre janeiro e outubro deste ano, uma média de duas vítimas por dia, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública. O número é 112% maior do que o contabilizado no mesmo período de 2023, quando foram registrados 291 casos.
Os dados não incluem os casos recentes que chocaram o país — como o da mulher atropelada e arrastada por mais de um quilômetro até a Marginal Pinheiros, e o da vítima atacada pelo ex-namorado com duas armas no local de trabalho —, ocorridos em novembro e dezembro.
A lei considera feminicídio quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, além de menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima. No levantamento divulgado, foram considerados os registros nos quais o alvo foi do sexo feminino.
Violência contra a mulher no Brasil
A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo DataSenado em parceria com a Nexus, mostra que uma em cada quatro brasileiras já sofreu algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem. Em 70% dos casos, o agressor é o atual marido, companheiro ou namorado. Em 11%, trata-se do ex-parceiro.
Apesar dos índices elevados, menos da metade das vítimas denunciou o agressor à polícia. Além disso, 62% não solicitaram medidas protetivas, que podem ser determinadas pela Justiça em até 48 horas, conforme o Tribunal de Justiça de São Paulo.
As medidas são previstas na Lei Maria da Penha e impedem que o agressor se aproxime da vítima, além de determinar acompanhamentos e garantias de proteção.
Cultura de incentivo à violência
Para a advogada Mayra Cotta, especialista em gênero, o avanço da violência contra a mulher também é impulsionado pelas redes sociais, onde discursos misóginos se propagam com rapidez.
“Nenhum agressor comete um feminicídio porque um dia ele acorda e decide fazer isso. Ele está inserido numa cultura que, de alguma forma, o legitima e o incentiva”, afirma.
Segundo ela, o estímulo não ocorre apenas por manifestações explícitas de ódio, mas também por discursos que desumanizam as mulheres, tratando-as como inferiores e, portanto, “merecedoras” da violência sofrida.
“Promover o ódio contra as mulheres é o grande esporte nacional. Enquanto isso for lucrativo e permitido nas plataformas, não vamos chegar ao coração do problema”, alerta.
Vínculo com o agressor
A advogada destaca que grande parte das mulheres é vítima de pessoas com quem mantiveram ou ainda mantêm uma relação afetiva.
“É uma condição muito peculiar a nós, mulheres, sermos vitimadas por pessoas que um dia a gente amou”, afirma.